terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mais Uma

E era por isso que talvez os bares da Avenida Afonso Vaz de Melo me acolhia com braços de mãe.
Não havia em nenhum copo de cerveja o veneno que sempre encontrava em suas palavras.
Os verões de minha juventude pacata passaram com a velocidade de viaturas barulhentas. Levaram os sonhos de sermos "rock star" ou de um dia estar ali naquele palquinho cantando Caetano ou qualquer reggae comercial.
Os cigarros que já tiveram propagandas mais atraentes continuam atraindo. Mesmo o amor, que um dia já foi filme, hoje afasta pessoas de suas vidas normais. E a relação entre os cigarros e o amor continua sendo atraente.
Tamanho era o numero de pessoas ao meu redor, que a solidão me engolia e me cuspia de volta para mais um trago, e mais um gole.
Até que lembrei que te esquecer não foi tão difícil. Difícil mesmo foi pegar meus livros e outras coisas mais que estava em posse do seu governo.
E tarde da noite, a mesma noite de bares e pessoas, de cigarros e amores, de Caetano e veneno, de você em meus pensamentos. Ainda vi que meus amigos envelheceram antes que eu os contasse sobre as pessoas que vivem no universo. Sobre os esforços que nossos pais já fizeram por nós e sobre os poetas urbanos que ainda vivem.
E tudo parecia estático naquela noite de verões e viaturas.
O casal na mesa ao lado paralisados nos olhares, o grupinho de solteironas fofocando dias de amores. A onipotente Pontífice Universidade Católica que se erguia do outro lado da avenida que era cortada por ônibus cheios de pais de família indo pra casa depois de um dia cansativo e modorrento, almejando um gole da cevada gelada que estava em meu copo.
Então, como que dono de mim mesmo, capaz de decidir meu destino nos próximos minutos. Resumo meu veredicto em duas simples palavras direcionadas ao garçom: "Mais uma".

Agnus Aquiles

2 comentários:

  1. Agnus Aquiles,
    O que pode nos mover mais, os poetas, do que a transparência dos sentimentos desenhada em palavras? A nossa arte é a nossa vida, ou o contrário... mas isso não importa, o que importa mesmo é essa delicadeza de entender o mundo, por mais que isso se confunda com uma dor, vazio, sei lá o quê... Gostei muito de seus textos, verdadeiros, cheios de pureza, simplicidade...

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  2. Essas palavras vindas de você é mais que um elogio, é um incentivo.
    Muito obrigado!

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